segunda-feira, 31 de março de 2014

Capas que não fizeram história, nº 28: Deixem jogar o Mantorras

Quando no passado sábado o árbitro Nuno Almeida anulou um golo limpo a Montero, a frase "Deixem marcar o Montero" começou de imediato a povoar-me a mente, e acabaria por servir de título ao post de comentário ao jogo que escreveria mais tarde. Como é evidente, esta frase foi inspirada no mais popular slogan futebolístico da primeira década do novo século: "Deixem jogar o Mantorras".

Agosto de 2001

(obrigado pela capa, Tiago!)

Trata-se de uma expressão que pegou de estaca, mas que teve duas vidas completamente distintas. A primeira, que remonta a 2001, tinha a ver com as queixas do jogador por ser alvo de marcações cerradíssimas por parte dos defesas adversários. O jogador vivia um grande momento de forma, e Luís Filipe Vieira, na altura o responsável pelo futebol da direção de Manuel Vilarinho, demonstrava já grande apetência por números megalómanos e inconcretizáveis, avaliando Mantorras em 18 milhões de contos (€90M). De notar que nessa altura o recorde de transferências mundial era a aquisição de Figo pelo Real Madrid ao Barcelona, por €60M.

No entanto, a carreira do jogador nunca chegou a atingir a dimensão que o atual presidente do Benfica esperava. Uns anos e uns parafusos mais tarde, a expressão "Deixem jogar o Mantorras" acabaria por ganhar uma nova vida, sendo utilizada num contexto completamente diferente:

Abril de 2007

Clipping sobre a convocatória de Fernando para seleção

                                                                                                                     
Nota prévia: já escrevi várias vezes que não me choca que jogadores naturalizados sejam convocados para a seleção. Da mesma forma que não tive nada a opôr quando Deco, Pepe e Liedson foram chamados, seria uma hipocrisia da minha parte que o fizesse contra Fernando.

A avaliar pelos passos dados pela FPF no sentido de conseguir a aprovação da FIFA, deverá ser uma questão de tempo para ouvirmos o nome do jogador do Porto ser anunciado por Paulo Bento, por ocasião da próxima convocatória.

in Record

No entanto, olhando para estas declarações, feitas há pouco mais de um ano (obrigado, Hugo)...

in relvado.sapo.pt

...e para estas afirmações de Paulo Bento...

in record.pt

... é caso para perguntar se ambos têm algum problema grave de memória.

Eu sei que vivemos num país que vende vistos de residência por €500.000 e que apoia a integração da Guiné Equatorial na CPLP a troco de um investimento de €130M no BANIF. Mas digam o que disserem, perante as declarações de Paulo Bento e Fernando, se se confirmar a convocatória do jogador estaremos perante um golpe na dignidade do selecionador nacional, na dignidade da seleção e, indiretamente, na dignidade de todos nós.

Todos têm direito a mudar de opinião, mas não deixa de ser relevante questionarmo-nos que forças conseguiram mudar o fervor patriótico de Fernando em pouco mais de um ano e, ao mesmo tempo, fazer desaparecer uma forte convicção de um selecionador conhecido por ser uma pessoa de ideias fixas.

As crónicas de jogo também se inclinam

A opinião do Maisfutebol sobre o SCP - VGuimarães                                                                         
No final do Sporting - Guimarães, tanto eu como os meus companheiros de bancada saímos do estádio com um misto de satisfação e alívio. O Sporting tinha acabado de assegurar os três pontos em disputa, mas os últimos minutos tinham sido passados de forma bastante intranquila, perante as tentativas do adversário em chegar ao empate.

No entanto, nenhum de nós saiu com a sensação de que o resultado tinha sido injusto, pois o Sporting tinha sido a melhor equipa em campo durante a esmagadora maioria do tempo.

Ao longo de todo o domingo fiquei com esse sabor de justiça do resultado no palato, pelo que confesso que fiquei surpreendido quando o leitor F. Pais me fez referência a esta apreciação ao jogo no Maisfutebol:



"O Vitória Guimarães merecia mais. A forma como controlou o jogo, o adversário e até foi capaz de acabar por cima na partida justificavam um ponto como prémio.". "A sensação de que o resultado mais justo, mesmo contanto aquele erro arbitral, seria o empate e não o 1-0.".

Segundo a crónica do Maisfutebol, os grandes momentos do Guimarães que chegaram para justificar o empate, foram:

  • Uma quase-assistência após erro de Rojo, intercetada por Maurício
  • Dois cabeceamentos perigosos de Tomané
  • Dois remates às malhas de Tiago Rodrigues e Malonga

Se quase-assistências forem consideradas como oportunidades de golos, então aí o Sporting devia ter ganho por goleada. Foram vários os lances de ataque do Sporting que só não deram ocasiões de golo iminente por falhas no último passe.

Em relação aos dois cabeceamentos perigosos e aos remates às malhas laterais, alguns deles foram de facto arrepiantes, mas o que todos tiveram em comum foi que nenhum tomou a direção da baliza. Douglas teve indiscutivelmente uma vida mais complicada no jogo de sábado.

É verdade que não foram abundantes as ocasiões de golo criadas pelo Sporting durante todo o jogo, mas chegam para as do Guimarães. Por exemplo, quando Slimani ficou isolado na cara de Douglas, o remate fortíssimo de Jefferson sacudido pelo guarda-redes, um cabeceamento de Slimani perto da pequena área que foi desviado por um defesa do Guimarães, o golo de Rojo, um cruzamento de Mané que ia entrando num canto da baliza, a oportunidade de Capel após atraso de cabeça de Slimani, e ainda o golo mal anulado a Montero. 

Para além da contabilização das oportunidades, todas as outras estatísticas corroboram o domínio geral do Sporting face ao Guimarães.

Dizem que normalmente o que interessa é como se acaba, e não como se começa. Mas mesmo assim não compreendo como um jornalista desportivo conclua que os 20 minutos de ascendente do Guimarães, que coincidiram com o final do jogo, possam ser equiparados aos restantes 70 em que apenas existiu uma equipa a procurar o golo.

É perfeitamente aceitável que se diga que a exibição do Sporting foi descolorida, graças não só à ação do adversário, como acima de tudo devido a responsabilidades próprias (principalmente no fraco desempenho ao colocar a bola na área e no último passe), mas foi mais que suficiente para merecer os três pontos. Tudo o que se possa concluir para além disso não é mais do que simples wishful thinking.

Um bom domingo

A derrota do #FCPorto e o que representa para a luta pelo 2º lugar                                                             

O facto de o Porto ter perdido novamente na Madeira colocou o Sporting numa posição extremamente favorável para assegurar o 2º lugar.

No entanto, não podemos pensar que a Liga dos Campeões já está garantida. Acidentes podem sempre acontecer, apesar de não poder esconder que estou muito otimista: não só o Sporting parece continuar a jogar de forma altamente empenhada, como acima de tudo o Porto continua a parecer uma equipa pouco consistente para conseguir recuperar o atraso pontual nas poucas jornadas que restam.

É certo que vinham dando sinais positivos, mas na minha opinião os "feitos" alcançados pelo Porto de Luís Castro estavam a ser claramente sobrevalorizados. A qualificação na Liga Europa à custa do Nápoles teve tanto de mérito como de uma sorte inacreditável, tantas foram as oportunidades de golo claro desperdiçadas pelos italianos, e também não consegui ver motivos para tantos elogios vindos dos mais variados quadrantes após a vitória da passada quarta-feira sobre o Benfica (conforme tive oportunidade de escrever aqui).

Para além disso, continuam a haver sinais de alguma desorientação. Depois das tristes cenas protagonizadas por Quaresma no final do Guimarães - Porto, o jogador voltou a estar no centro de uma enorme confusão no final do jogo de ontem. 


Será incompreensível se Quaresma não for castigado após estas inenarráveis cenas. Confesso que não consigo perceber estas atitudes num jogador que já tem 30 anos e que, tendo chegado a meio da época, não pode estar a sentir assim tanto a pressão dos insucessos da equipa. São demasiados casos, pois para além destes que referi, também temos que nos lembrar de algumas faltas duríssimas que Quaresma tem cometido sobre adversários e que só por acaso (ou não) não lhe valeram qualquer expulsão até hoje.

Ao Sporting e aos seus jogadores e equipa técnica compete continuar a seguir a estratégia definida deste o princípio da época: não olhar nem para cima nem para baixo na classificação, continuando a seguir a lógica de pensar um jogo de cada vez. Se tem resultado até aqui, temos todos os motivos para acreditar que continuará a funcionar nos cinco jogos que faltam.

domingo, 30 de março de 2014

Deixem marcar o Montero

Comecemos por algo que já ultrapassou os limites do razoável. A confiança de um ponta-de-lança alimenta-se de golos. Montero não marca desde o jogo em Barcelos. Nos jogos seguintes não marcou, mas fez bons jogos, contribuindo de outras formas para o sucesso da equipa. Gradualmente a sua influência foi diminuindo, e com os golos que Slimani foi conseguindo, acabaria por ser relegado para o banco.

Contra o Olhanense, Montero marcou um golo perfeitamente legal, mas o fiscal-de-linha viu um fora-de-jogo que mais ninguém viu. Hoje aconteceu o mesmo. Em ambos os jogos o Sporting ganhou por 1-0, mas aquilo que poderiam ter sido vitórias tranquilas acabaram por se transformar em jogos de grande aflição para todos nós.

O problema de Montero é que os nossos adversários criaram uma narrativa de tal forma repetida até à exaustão, que os fiscais-de-linha se sentem quase obrigados a levantar a bandeirola em caso de dúvida, ou mesmo em casos em que não é suposto haver qualquer dúvida. É esta também uma luta que o Sporting tem que ter fora das 4 linhas. Quem nos representa tem que desmascarar no momento as mentiras que são ditas. Têm que ir preparados, saber que erros existiram ou não, desarmar as narrativas logo à nascença. Ainda na semana passada houve um paineleiro que falou em 5 golos de Montero em fora-de-jogo. Qualquer dia chegarão à conclusão que o Sporting ainda não marcou qualquer golo legal.

Mudo agora a agulha para Slimani: é inadmissível o que fez hoje. Se já é mau ter-se atirado para o chão no início do jogo em vez de tentar tirar o melhor proveito possível da jogada, é uma total irresponsabilidade fazê-lo uma segunda vez, arriscando pôr a equipa a jogar com menos um durante largos minutos. O próprio pareceu ter-se apercebido de imediato da asneira, pois levantou-se de imediato para correr atrás da bola, mas o mal estava feito. Tivemos sorte nesse erro do árbitro.

De resto, foi uma vitória justíssima. Na primeira parte só existiu uma equipa. O Sporting entrou fortíssimo no jogo, e criou grandes oportunidades bem cedo. Primeiro por Slimani, após um lançamento longo de William, que terminou na simulação do argelino, após perder demasiado tempo a controlar a bola. Depois num remate de Jefferson que Douglas defendeu para a frente, para uma zona onde infelizmente não estava nenhum jogador do Sporting para fazer a recarga.

O Guimarães conseguiu equilibrar o jogo no resto da primeira parte, mas foi sempre o Sporting a conseguir criar as melhores ocasiões, graças principalmente às arrancadas de Mané.

Ao intervalo, Leonardo Jardim lançou Montero, retirando o inconsequente Heldon. A segunda parte começou com o golo que daria a vitória ao Sporting. Cruzamento de Jefferson da direita, a bola bate nas costas de um jogador do Guimarães, indo na direção de Rojo, que rematou à meia-volta sem pedir licença a ninguém. O remate volta a ressaltar num defesa do Guimarães e acaba por entrar na baliza. Um golo feliz que, no entanto, só pecou por tardio.


Foto: Record

Imediatamente a seguir, Rojo resolve pessimamente um lance na área, que daria a primeira grande ocasião de perigo do Guimarães, que acabaria por ser resolvida por Maurício. Rojo esteve bem no resto do jogo, tendo conseguido alguns desarmes fundamentais, um dos quais seria transformado incompreensivelmente em falta à entrada da área e em cartão amarelo pelo árbitro.

Até aos 65 minutos o Sporting teve várias oportunidades, entre as quais esteve o golo anulado a Montero, a cruzamento de Jefferson. Pouco depois, Mané fez um grande centro da direita, Slimani amortece ao 2º poste de cabeça para Capel, que se estica para finalizar mas acaba por esbarrar com Douglas, que se lançou corajosamente à bola.

A partir daí a iniciativa de jogo coube principalmente aos visitantes, que dispuseram de boas ocasiões para marcar, algumas das quais me causaram enormes calafrios na espinha. O Sporting também poderia ter resolvido o jogo em alguns lances de contra-ataque, que acabaram invariavelmente perdidos por más decisões tomadas por quem conduzia a bola.

Mas a verdade é que a vitória é justíssima e assenta bem ao Sporting, que acumula mais três importantes pontos na luta pelo 2º lugar. Gostei principalmente das exibições de Rojo, Mané, e Jefferson. William voltou a mostrar momentos de enorme classe, mas pareceu-me algo hesitante em intervir defensivamente em algumas situações que lhe cabiam a si resolver.

Podemos agora ficar confortavelmente à espera do jogo do Porto de amanhã, sabendo que transpusemos um difícil adversário, que vendeu caríssimas as derrotas na Luz e no Dragão, também por 1-0. E já só faltam cinco jogos.


Foto: Record

P.S.: Iniciativa muito interessante a de se colocarem os nomes de adeptos nas camisolas dos jogadores. Se passar a ser uma tradição anual, pode vir a dar campanhas de marketing altamente concorridas. Quem não quereria ter o seu nome estampado nas costas de jogadores destes?

sábado, 29 de março de 2014

JJ vintage

JJ critica benefícios de arbitragem ao #Benfica                                                                    
Lindo! Para os lagartos que dizem que só o seu presidente admite benefícios de arbitragem para o Sporting, aqui está Jesus a criticar duramente um árbitro por favorecer o Benfica.


Pronto, é preciso recuar à época de 2008/09, quando Jesus estava no Braga, mas isso são pormenores...

sexta-feira, 28 de março de 2014

Capas que não fizeram história, nº 27: O xerife trampião

#Vieira #Benfica                                                                                                                                    
Sugeri há dias a utilização do conceito trampião no léxico futebolístico nacional, que define indivíduos portistas e benfiquistas que encontram um espaço comum de convivência a bem da proteção simultânea de ambos os clubes, em detrimento das ameaças externas (Sporting).

Como exemplo recente, temos a forma como Guilherme Aguiar e Rui Gomes da Silva se apoiaram mutuamente para tentar impingir ao mundo a mentira de que o golo de William contra o Marítimo teria sido precedido de uma mão de Rojo.

Ou a forma acolhedora como na quarta-feira foi recebida a claque do Benfica no Dragão, com as suas bandeiras e adereços diversificados, na sequência do acordo de cavalheiros que reduziu a quota de bilhetes fornecidos ao clube visitante.

E ainda, no final do clássico de ontem, episódios como a terna conversa entre Jesus e Pinto da Costa, a falarem da dieta de um e da saúde do outro, das risadas durante o animado diálogo entre Rúben Amorim e Antero Henrique à saída do balneário, que até pareciam velhos conhecidos, ou do confortável camarote VIP colocado à disposição de Luís Filipe Vieira.

O futebol é bem mais bonito quando é vivido num ambiente de cordialidade e amizade. E não há nada mais belo que um genuíno momento de comunhão e partilha entre trampiões.

Não me espanta este convívio são entre elementos das duas instituições. É que à frente do Benfica está um homem que pode ser considerado o sócio nº 1 dos trampiões. O provedor dos trampiões. O xerife dos trampiões. Luís Filipe Vieira, sócio do Porto e do Benfica, braço direito de Pinto da Costa durante anos, é amigo dos seus amigos e defende-os com unhas e dentes.

O xerife Vieira é um homem corajoso que não hesita em colocar a estrela ao peito sempre que necessário, principalmente quando é necessário defender a diligência da bipolarização, que transporta tesouros como o cofre com os milhões da Liga dos Campeões, pertença dos cavalheiros que usam cartolas vermelhas ou azuis, dos ataques dos bandidos que cobrem a cara com uma bandana verde.

Recordemos, por exemplo, um episódio que aconteceu há pouco mais de um ano.

No dia 2 de Março de 2013, tinham-se cumprido 20 jornadas do campeonato. Benfica e Porto lideravam a tabela classificativa de mão dada, com 52 pontos. O Sporting era 11º classificado com 22 pontos. Nesse dia Luís Filipe Vieira deu uma entrevista ao Record. Adivinhem quem foi o alvo principal do seu ataque?

Março de 2013

O Sporting, claro está. Também avisa Jorge Jesus que o Benfica terá sempre um bom treinador, e que tentará chegar à final da Liga dos Campeões. Para o co-líder do campeonato, nem uma palavra.

O interessante no meio disto tudo é que nesse mesmo dia o Sporting recebia o Porto para o campeonato. Viera, como bom trampião, resolveu tentar dar uma bicada no Sporting, não fossem os leões atrapalhar os seus amigalhaços portistas na cavalgada para o título.

Há prioridades. O Sporting, em pleno período eleitoral, a atravessar uma crise gravíssima, e a 30 pontos do Benfica, era a principal fonte de preocupações para Luís Filipe Vieira.

Curiosamente, o Sporting acabou mesmo por fazer uma desfeita a todos os trampiões, empatando 0-0, num jogo cheio de incidentes: pela primeira vez em que há memória, o treinador principal (Jesualdo Ferreira) e o seu adjunto (Oceano) foram expulsos, Rojo viu um 2º amarelo por causa de uma falta que foi cometida por... Rinaudo, e mesmo assim o Sporting teve alma e talento para criar várias oportunidades nos últimos minutos que podiam ter valido a vitória no jogo.

O Benfica aproveitaria a ajuda do Sporting e ganharia o seu jogo nessa jornada, passando a ser líder isolado. Devem ter sido dias de difícil digestão para o xerife Vieira.

Fica-lhe tão mal...

A venda de ações do #Benfica por #Vieira                                                                                          
Foi ontem divulgada a notícia sobre a venda que Luís Filipe Vieira fez de 70.000 ações da SAD benfiquista.

in dinheirodigital.sapo.pt

Aquilo que é uma transação normalíssima, fica no entanto imediatamente a cheirar a esturro após a notícia que saiu há cerca de uma semana:

in desporto.sapo.pt

Não acredito que Vieira tenha cometido alguma ilegalidade. Desde que passou a ser presidente do Benfica tem conseguido subir inúmeros degraus na escadaria dos mais ricos do país, pelo que não são as mais-valias adicionais que conseguiu por vender 10% das suas ações do clube que irão fazer grande diferença.

Para além disso, numa altura em que a CMVM pede explicações pela valorização de 255% das ações desde o início do ano, escusava de se pôr a jeito para alimentar suspeições sobre a utilização de meios ilícitos para aumentar a sua fortuna.

O problema, para mim, está no simples facto de Vieira ter vendido ações. Se num homem de negócios é um procedimento perfeitamente previsível, num presidente do clube, que supostamente deveria ser o mais benfiquista de todos os benfiquistas, é mais um sinal que demonstra algum desprendimento emocional com a instituição que lidera.

Uma coisa eu posso garantir. Eu nunca venderei as ações do Sporting que possuo. É um valor insignificante? É. Mas se calhar, proporcionalmente, têm um peso superior ao que aquelas 70.000 ações representam para a fortuna de Vieira.

O presidente cumpriu 1 ano de mandato mas nós é que recebemos a prenda

                                     
Que grande entrevista que Bruno de Carvalho fez na TVI24. Se tiver oportunidade hei-de fazer um post sobre os melhores momentos, mas fica aqui um pequeno resumo:


I - A situação financeira do Sporting


  • Após a reestruturação a dívida do universo Sporting passará de €384M para €236M, dos quais €175 serão empréstimos bancários


  • Orçamento de futebol desta época ficará em €25,7M (incluindo plantel, formação, equipa técnica); para terem uma noção comparativa, no final do 1º semestre os custos com pessoal do Porto eram de €24,8M e os do Benfica de €28,5M



  • O PER proposto pela direção anterior previa a extinção de todas as modalidades, com exceção do futsal, que passaria para a SAD
  • Se existirem receitas extraordinárias (de vendas de jogadores), parte da verba será investida em infraestruturas (será desta que teremos pavilhão?)
  • "Não temos uma equipa de tostões, temos uma equipa adaptada a realidade portuguesa. Espero que os outros continuem a viver acima das possibilidades durante muitos e bons anos, depois vai ser muito mais difícil recuperarem, e nós cá estaremos para aproveitar se tivermos competência para isso"

II - A equipa de futebol



  • A equipa faz o que ambicionava para o Sporting, sem vedetismos. A única vedeta é o Sporting, o resto é trabalho.
  • Altura certa para renovar com Leonardo Jardim é no final da época
  • Leonardo Jardim tem cláusula de rescisão de €15M


III - Relacionamento com Porto e Benfica, e Apito Dourado


  • Dificilmente poderá haver um clima de normalidade com Pinto da Costa e Vieira
  • "Para se obter o primeiro lugar não se pode andar com alianças a esquerda e para a direita"
  • "Se eu reconheço no Porto e Benfica a mesma visão que o Sporting para o futebol português? Zero, nada."
  • "Para as coisas evoluirem, tem a ver com a mesma noção de negócio - competitividade, dar atenção às equipas mais pequenas, uma segunda liga com mais competitividade, regras absolutamente claras para não haverem influências nefastas no centro de decisão"
  • Sobre os méritos do Porto: "Tudo tem uma causa. Se tiver noção da dívida do Porto e das vendas que fez, começa logo a achar que há alguma coisa estranha. (...) Eu acho é que depois do que se vende, fica pouco, senão não tinha a dívida que tem."
  • "No Apito Dourado, juntaram milhares de provas, e todos nós tivemos acesso a grande parte delas; todos nós tivemos consciência que tudo o que se dizia era verdade; há clubes que usam corrupção, frutas e similares, há árbitros que são comprados, isso foi público e notório."
  • "Qual foi o resultado prático? Que o Porto utilizou durante largos anos práticas pouco recomendáveis; a justiça desportiva faz uma coisa brilhante: escolhe o campeonato em que o Porto ganhou com maior distância, retira-lhe 6 pontos e mantém-se campeão."

IV - Sobre os tratamentos diferenciados da justiça desportiva e da comunicação social



  • Sobre Herculano Lima: "As gravações que foram divulgadas demonstraram o brilhantismo que foi o juíz Herculano Lima; nada clubista, é de uma isenção total. (...) O Sporting foi gozado pelo juíz Herculano Lima"
  • Sobre o facto de a mensagem do Sporting não ser passada com rigor na comunicação social: "Nós não temos ao nosso dispor os 527 jornais que saem diariamente e os 125 programas que falam de futebol."
  • Referiu-se ainda que quando os outros se queixam, o tratamento dado é completamente diferente.


Houve outros grandes momentos. A entrevista é muito interessante, do princípio ao fim, pelo que recomendo que a vejam se não tiveram oportunidade.

Reações no twitter após o final da entrevista

quinta-feira, 27 de março de 2014

Mais do mesmo

Sobre os rumores da saída de Leonardo Jardim                                                                               
Hoje Leonardo Jardim é dado como pretendido no Marselha, no Milan e Tottenham. Vamos ter que nos habituar a estas notícias de desestabilização, porque não são mais do que isso: notícias de desestabilização.

in dn.pt

Há um pormenor importante: a cláusula de Leonardo Jardim não é a "modesta" quantia de €1,5M. O valor é de €15M, que já não será tão modesto assim.

E já agora, a vontade do próprio Leonardo Jardim também há-de contar para alguma coisa. Não me parece que lhe faltarão oportunidades no futuro para prosseguir a carreira lá fora, já que tem apenas (e muita gente se esquece disso) 39 anos.

De qualquer forma, isto é puro folclore. Já ontem, na SIC Notícias, durante o lançamento do Porto - Benfica, Pedro Marques Lopes, político e adepto do Porto, dizia que o Benfica se preparava para tentar contratar Leonardo Jardim.

Antes disso, já corriam rumores que seria o Porto a querer Leonardo Jardim. Primeiro, em Janeiro, em mais uma teoria mirabolante de Rui Santos. A ideia pegou e mais tarde, a dois dias do Benfica - Sporting, a CM TV (parceira da Benfica TV) lançou esta notícia:


Estamos numa fase em que vale tudo para nos tentarem desestabilizar, e continuará a ser assim até maio. Neste caso, fazê-lo através de Leonardo Jardim é uma das formas mais óbvias de nos atingirem. Nada de novo, é mais do mesmo.

A prioridade nº 1 para a próxima época

Sobre a renovação de contrato de Leonardo Jardim                                                                            
Estive a fazer um esforço de memória para me lembrar dos treinadores do Sporting de que mais gostei até hoje.

Existiram vários: Inácio e Boloni, por motivos óbvios; Robson, um senhor, que saiu demasiado cedo; Queiroz, que colocou o Sporting a jogar futebol como eu nunca vi em Alvalade, alicerçado em monstros como Figo, Balakov e Paulo Sousa; Peseiro, que colocou o Sporting a colocar um futebol muito atrativo, apesar de pouco consistente; Marinho Peres, uma figura carismática que protagonizou um arranque inesquecível em 90/91 e uma excelente campanha na Taça UEFA; ou Paulo Bento, que quando se tratava de defender o clube tinha que vestir não só o fato de treinador, mas também de diretor desportivo e presidente.

Mas de todos estes nomes, não há nenhum que me tenha convencido de forma tão inequívoca como Leonardo Jardim.

Em primeiro lugar, pela competência com que montou esta equipa que tanto nos tem orgulhado. Tendo à disposição um conjunto de jogadores desmoralizado que vinha da pior época da história do clube, e juntando-lhe jovens da academia e aquisições a preço de saldo, conseguiu criar uma máquina fiável que sabe sempre o que fazer em campo. Como Jardim gosta de dizer, uma equipa com uma identidade de jogo. 

Depois, o discurso. É um homem equilibrado, ponderado, humilde e respeitador, e acima de tudo coerente. Sabe a mensagem que quer passar e fá-lo de forma simples e clara, sem subterfúgios e sem se escusar a explicar as suas decisões, tratando jornalistas e adeptos como adultos. 

Lembro-me em particular das suas palavras no final do Arouca - Sporting. O jornalista perguntou-lhe por que motivo tirou William Carvalho, que até estava a jogar bem. Outros treinadores dariam uma resposta genérica do tipo "Eu tive uma fezada que se fizesse esta substituição as coisas iriam correr melhor", mas Leonardo Jardim explicou pormenorizadamente que tinha a ver com o facto de as características técnicas do jogador não se adequarem tão bem ao tipo de jogo que queria impôr.

A sintonia total que parece existir entre treinador e direção é outro ponto que só merece elogios. Não reclama pelos jogadores que não tem. Não se lamenta pela diferença de orçamentos em relação aos rivais. Não alimentou polémicas quando a comunicação social tentou explorar supostas diferenças de discurso entre si e o presidente. O clube tem uma estratégia realista e difícil de implementar, mas Leonardo Jardim soube integrar-se de forma irrepreensível, a ponto de ser difícil perceber onde começam e onde acabam as áreas de responsabilidade da equipa técnica e direção.

Finalmente, a gestão que faz da equipa: a forma gradual e segura como foi lançando Carlos Mané; a visão que teve ao descobrir em William Carvalho a solução para o equilíbrio da equipa que estava a construir; a maneira como conseguiu manter Slimani motivado e focado, mesmo tendo poucas oportunidades para jogar; o trabalho de evolução que transformou jogadores sub-apreciados como Cédric, Rojo ou Adrien em figuras da equipa e do campeonato.

Por tudo isto que referi e ainda mais, posso dizer que hoje admiro Leonardo Jardim como nunca admirei qualquer outro treinador do Sporting. A equipa é perfeita? Claro que não. Há espaço para evoluir e arestas a limar. Mas tenho a certeza que não existem muitos treinadores capazes de conseguir o mesmo que Leonardo Jardim em todas as áreas que referi.

As declarações que fez há pouco, na antevisão do Sporting - Guimarães, vêm na linha daquilo a que nos vem habituando:

in record.pt

A renovação de Leonardo Jardim é um tema importante? Claro que é. Na minha opinião é importantíssimo. Mas não hoje. Hoje o importante é todo o grupo estar focado no jogo de sábado.

No entanto, na minha opinião trata-se da prioridade nº 1 para 2014/15. É fundamental que no dia a seguir ao campeonato terminar que a direção lhe proponha um novo contrato, de duração superior e com condições melhoradas. Não vai ser aquilo que outros clubes lhe poderiam oferecer, mas é uma questão da mais elementar justiça que o Sporting faça o esforço financeiro possível dentro das suas capacidades. 

Leonardo Jardim diz que gosta de cá estar. Caro Leonardo, tenha a certeza que o sentimento é recíproco. Que fique connosco por muitos e bons anos.

Os padrões de exigência andam a baixar

A reação de Pinto da Costa à vitória de ontem sobre o #Benfica                                                                 
Não me lembro de Pinto da Costa alguma vez ter usado o termo "quase" em modo de autocongratulação no final de um jogo. No entanto, cá está ele na primeira página de O Jogo:


Sinal dos tempos. 

Ontem vi o jogo, com exceção do período entre os 10 e os 30 minutos da primeira parte, mas confesso que não me apercebi assim de tantos motivos para as celebrações portistas, nem para a edição laudatória de hoje do jornal O Jogo, onde se podem ler títulos como este:

"Uma noite à tricampeão"

"No Dragão ainda manda o campeão"

"E marcavam para as provas nacionais há um total de 43 partidas. Lá se foram os recordes..."

"O onze a que Jesus chamou álibi"

"Parece que o Benfica tem um problema para a segunda mão: já não poderá usar os fraquinhos"

É certo que tiveram 3 grandes oportunidades não convertidas (Varela, Jackson e Quintero), mas sem querer estar a fazer o papel de advogado do diabo, eu diria que um Benfica sem Enzo, Gaitan, Markovic e Lima, nunca será um adversário que justifique esta avalanche de elogios por parte de um jornal.

Na minha opinião, Jorge Jesus continua a fazer uma gestão muito inteligente dos jogadores. Assumiu que o campeonato é a prioridade e tem agido em conformidade, e com sucesso, pois não só acumulou uma vantagem confortável no campeonato, como ainda não comprometeu nenhuma das competições em que está envolvido desde que começou a rotação declarada da equipa (estou a excluir deste raciocínio a Liga dos Campeões, onde não existiram quaisquer poupanças).

Vejo por isso com estranheza as críticas de alguns benfiquistas por não ter colocado a carne toda no assador ontem contra o Porto. Tivesse Jesus poupado em algumas frentes no ano passado e muito provavelmente não teriam acabado a época de mãos a abanar.

Realmente há adeptos difíceis de contentar.

Sorriso amarelo

Desde que Luís Castro assumiu o comando da equipa principal do Porto, as típicas conferências de imprensa que antecedem os jogos passaram a ser substituídas por declarações exclusivas ao Porto Canal, realizadas em pleno relvado do treino de campos do Olival.

Registo com apreço que a nossa briosa e profissional comunicação social não deixou de querer levar as opiniões de Luís Castro aos seus espectadores / ouvintes / leitores, e vai gradualmente desacostumando-se aos ambientes das salas de imprensa dos clubes, podendo em alternativa pousar o seu rabinho no conforto das suas cadeiras nas respetivas redações ou estúdios, enquanto transcrevem as declarações a que agora só podem aceder através do canal 14 do Meo ou do canal 13 da Zon.

Alguém se espantaria se qualquer dia este hábito se estendesse também às reações do treinador após os jogos?

É por isso que acho estranho o silêncio dos diretores de jornais e dos responsáveis de desporto das estações de rádio e televisão perante a sua exclusão destas antevisões aos jogos, já que ficam impedidos de colocar as perguntas que as suas audiências querem ver respondidas. E já nem vou entrar no desprezo declarado que o Porto demonstra desta forma por todos os jornalistas.


Entretanto, o Benfica, sempre desejoso de experimentar os métodos inovadores do mentor de Vieira, decidiu fazer na terça-feira, em direto da sala de imprensa do Estádio da Luz, a conferência de imprensa menos concorrida da história, convidando apenas a Benfica TV para o evento.

Bem a propósito, Jorge Jesus iniciou a conferência de imprensa cumprimentando todos os jornalistas presentes.

in maisfutebol.pt

Mais uma vez, podemos agradecer o zeloso serviço da comunicação social em fazer chegar as declarações de Jesus a todos os portugueses que não têm a Benfica TV. Aliás, não só são zelosos como também são indivíduos com sentido de humor que sabem reconhecer uma piada quando a vêem, mesmo sendo eles o objeto da graçola.

É mais uma daquelas situações em que me pergunto se este silêncio da Comunicação Social não se transformaria num sonoro protesto se fosse o Sporting a decidir não prestar declarações aos jornalistas.

Tweet a propósito do blackout decidido pelo Sporting em Abril de 2012

Suspeito que pelo menos algum ruído haveria.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Capas que não fizeram história, nº 26: Erros meus

Nos últimos dias, o presidente do Conselho de Arbitragem tem-se desdobrado em entrevistas, coisa pouco frequente num homem que habitualmente prefere esconder-se no seu gabinete, sem explicar o bizarro critério das nomeações que tem feito ao longo do ano.

Uma dessas entrevistas foi dada ao Record.


Entre outras coisas, ficámos a saber que Vítor Pereira recusa-se a entrar nas aritméticas dos benefícios e prejuízos. Admite que têm existido erros de arbitragem que definiram resultados, mas não quer entrar em afirmações que apontem para a existência de algum clube em concreto que possa ter mais razões de queixa do que os restantes.

É uma atitude que, vindo do líder de arbitragem, todos deveríamos compreender. O problema é que Vítor Pereira fez exatamente o contrário há alguns anos, em circunstâncias que certamente não eram mais graves do que as atuais:

Setembro de 2010

É mais um caso entre tantos outros em que se verifica que, no futebol português, existem mesmo tratamentos especiais para alguns. Se nuns casos Vítor Pereira tem uma postura completamente submissa, noutros já se sente à vontade para libertar toda a frustração que vai acumulando dentro de si.

in O Jogo

Imagem retirada do blog Com quem é que joga o Sporting?

Se Camões fosse vivo, poderia dedicar às declarações de Vítor Pereira dirigidas a Benfica e Porto o célebre verso "Erros meus, má fortuna, amor ardente". Para o Sporting sobraria um "Erros acontecem, habituai-vos, ficai calados".

A importância do 2º lugar

No passado mês de agosto poucos de nós sonhariam que fosse possível estarmos a ocupar o segundo lugar da classificação a seis jornadas do fim. Mesmo assim, as circunstâncias que nos levaram até este ponto podem fazer com que, para alguns sportinguistas, o segundo lugar possa saber a pouco -- considerando o facto de já termos sido líderes isolados no campeonato, e espoliados de preciosos pontos que nos colocariam numa situação ainda mais confortável, ao mesmo tempo que forçaria o líder da prova sentir o ar quente da respiração do leão a provocar-lhes arrepios na nuca.

No entanto, ainda há muitos jogos pela frente, e não tomo de maneira alguma o segundo lugar como garantido. Os cinco pontos de vantagem podem desaparecer muito rapidamente e necessitam de uma equipa concentrada e empenhada em cada uma das seis partidas que estão por disputar.

É importantíssimo que o Sporting consiga segurar este segundo lugar. Os benfiquistas mais embriagados pelo cheiro inebriante do título, e os portistas que se habituaram a tomarem por garantidas as vitórias no campeonato, certamente que olharão com desdém para adeptos que se sentem satisfeitos por serem os primeiros dos últimos. É um erro, porque o verdadeiro campeonato do Sporting não termina à 30ª jornada.

O verdadeiro campeonato do Sporting é um projeto multianual que tem o objetivo de devolver progressivamente as condições necessárias que permitam ao clube voltar a conquistar o campeonato nacional. E este segundo lugar poderá ser um degrau fundamental na ascensão que existe para fazer, por diversos motivos:

  • Os milhões da Liga dos Campeões - num clube com um orçamento apertadíssimo, os 8,6 milhões garantidos são um balão de oxigénio muito importante; não serão para estourar na totalidade em contratações e salários milionários, mas permitirão certamente um pouco mais de folga para suprir as carências do plantel para a próxima época, e ajustar os salários dos jogadores que superaram as expetativas este ano
  • O planeamento da próxima época - num ano de mundial, os melhores jogadores estarão em competição até finais de junho; ter que disputar um playoff de acesso à Liga dos Campeões significará um tempo de descanso reduzido para esses jogadores, que poderá ter reflexos negativos numa fase mais adiantada da época de 2014/15; para além disso, o 3º lugar implica que não se saiba se teremos ou não acesso aos milhões da LC, com todos os problemas de incerteza que isso provoca no momento em que se orçamenta a época
  • Crescimento emocional dos jogadores - o facto de o Sporting se intrometer entre os crónicos dois primeiros classificados dos últimos anos será uma injeção de confiança para o próximo ano
  • Pressiona despesismo megalómano de Porto e Benfica - o Braga já tinha ajudado a quebrar esse mito, mas Vieira e Pinto da Costa ficam ainda com menos argumentos para continuarem a alimentar o desastre orçamental dos seus clubes, insistindo nas contratações e salários milionários, e no desprezo pelos jovens jogadores da sua formação
  • Pode facilitar a permanência dos melhores jogadores para a próxima época - para além de o dinheiro da LC poder aliviar os problemas orçamentais, a participação nessa prova poderá ser um fator muito atrativo para manter satisfeitos os melhores jogadores da equipa; no caso particular de William Carvalho, talvez oferecendo-lhe o teto salarial (mantendo intacta a cláusula de rescisão) e perante a perspetiva de jogar na Liga dos Campeões, onde terá hipótese de se desenvolver ainda mais, seja possível convencê-lo a ficar satisfeito mais um ano em Alvalade apesar da cobiça anunciada de tubarões europeus -- e todos sabemos como isso seria importante

Na minha opinião devemos cobiçar o segundo lugar como se de um título nacional se tratasse, continuando a a equipa de forma incondicional e entusiástica. O sabor desse segundo lugar só não será tão intenso porque teremos o ruído de fundo da inevitável bazófia lampiã (que não confundo com os legítimos festejos dos benfiquistas equilibrados, que terão todo o direito de desfrutar do sucesso da sua equipa), incapaz de perceber que o tique-taque do relógio os aproxima sem dó nem piedade do momento inevitável em que o peso dos €320M de empréstimos bancários e obrigacionistas fará ceder toda aquela estrutura de luxo a que se habituaram, vergando-os ao choque com a mesmíssima realidade que tivemos de enfrentar há pouco mais de um ano.

Se conseguirmos o segundo lugar, lidar com esse ruído de fundo será bastante fácil. Basta desligar a televisão durante algumas horas e o pior já terá passado. No dia a seguir a festa esmoreceu, e nós estaremos um dia mais perto de ocupar o lugar que tanto ambicionamos, porque temos um rumo realista e coerente liderado por gente competente. Tique-taque-tique-taque.

A opinião idónea de José Leirós III

No domingo passado, aos 8 minutos de jogo, Mangala deu uma cotovelada na cara de um adversário. Na minha opinião o jogador do Porto merecia ter visto cartão vermelho. Carlos Xistra nem sequer falta assinalou.

Comecemos por ver a apreciação do Tribunal O Jogo.


Jorge Coroado e Pedro Henriques também são da opinião que o francês devia ter sido expulso. Leirós, na sua visão alternativa, acha que não há ali nada de especial, e nem um amarelo se justificava.

Vejam agora o lance para julgarem por vocês próprios. Como bónus, fica ainda a observação de Eduardo Barroso sobre a opinão de José Leirós.

Vídeo completo pode ser visto no canal de youtube Fernanndo00

Também penso que deveria haver um sumaríssimo para Mangala. Não é a primeira vez que faz uma brincadeira destas, e nada lhe aconteceu.

Links para outros capítulos da série A opinião idónea de José Leirós:
I --> Gil Vicente - Sporting
II --> Sporting - Nacional

terça-feira, 25 de março de 2014

Momento trampião do dia


Nos últimos meses temos sido testemunhas do advento de um novo fenómeno no futebol português que há um ano seria impossível de imaginar: um movimento que se caracteriza pela harmonia entre portistas e benfiquistas contra ameaças externas à bipolarização, que foi batizado de trampião.

Ao contrário do que possam pensar, a palavra não é um anglicismo aportuguesado da palavra tramp, que pode significar vagabundo ou pessoa sexualmente promíscua. Trampião resulta simplesmente da contração dos substantivos tripeiro e lampião.

O trampionismo está a atravessar uma fase de enorme pujança. Por exemplo, todas as semanas temos sido brindados por momentos de comunhão intelectual entre Guilherme Aguiar e Gomes da Silva, que muitos de nós julgaríamos serem figuras incompatíveis até há pouco tempo atrás.

Hoje tivemos direito a mais um momento trampião:

in record.pt

Não sei o que me faz mais confusão nesta notícia. Se a palavra acordo, se a palavra cavalheiros. Parece-me um enorme contrassenso aplicar ambos os termos numa frase que envolve Benfica e Porto em simultâneo, mas o que é facto é que ambos os clubes chegaram a um entendimento para reduzirem o número de adeptos que cada um leva ao estádio do adversário.

Preocupação ambiental em reduzir a pegada ecológica? Ou simplesmente não querem encontrar motivos para se zangarem numa altura destas? Estou mais inclinado para a segunda hipótese. Seria uma pena que acontecesse algo que condenasse o trampionismo à nascença.

Um novo paradigma para convocatórias da seleção, por Rui Pedro Braz

No programa Contragolpe do passado domingo, Pedro Sousa falava sobre o facto de Quaresma e Adrien justificarem a presença no mundial, quando Rui Pedro Braz decidiu contribuir para o debate com a sua iluminada opinião:


Ficámos a saber que, mais do que o rendimento desportivo efetivo de um jogador ao longo do ano, os critérios que realmente devem prevalecer nas convocatórias para a seleção são a polivalência e o nome do jogador que lhe tira a titularidade.

Adrien pode ser uma máquina de recuperar bolas e fazer jogar, um marcador de penáltis exímio, e ter uma capacidade de passe longo e remates de meia distância de qualidade, e com um rendimento pendular, mas tem apenas a concorrência de Vítor no plantel, pelo que no máximo poderá apenas aspirar a discutir um lugar com Josué.

Rúben Amorim tem feito bons jogos, mas tem menos de 450 minutos de jogo na I Liga. A sorte dele é que o Benfica foi relegado para a Liga Europa, caso contrário nem em jogos internacionais seria utilizado. Mas descobrimos agora que o facto de ser suplente de Enzo Perez é motivo suficiente para justificar a sua presença no mundial.

Não tenho nada contra o jogador, mas ouvindo muitos comentadores e os benfiquistas parece que estamos diante do novo Pirlo. Falamos de um jogador que esteve em Braga durante um ano e meio a jogar a um nível pouco brilhante, para ser simpático. Como é evidente, não havendo no Braga um Rodrigo, um Markovic ou um Gaitan para fazer passes a rasgar, torna-se mais complicado dar nas vistas. Mas se fosse assim tão bom seria natural que tivesse sobressaído bastante mais. Hugo Viana, por exemplo, conseguiu-o.

O argumento da polivalência também é uma falsa questão. A polivalência é interessante se um jogador demonstrar um bom rendimento em várias posições. Rúben Amorim pode ser um bom médio centro, mas nunca se destacou verdadeiramente como defesa direito e ainda menos como médio direito. Num mundial não há espaço para soluções de recurso. Têm que estar os melhores em cada posição.

É o país em que vivemos. Todas as pessoa minimamente informadas sabem que qualquer cepo pintado de vermelho tem hoje grandes hipóteses de representar a seleção nacional, seja pela força da pressão pública que imediatamente é exercida, seja pelas simpatias clubísticas do selecionador.

A próxima aposta de PB; Adrien terá que esperar pela sua vez

No entanto, eu pensava que existiam alguns limites, e em que a utilização regular e a qualidade de jogo seriam sempre fatores fundamentais. Paulo Bento já fez o favor de me desfazer essas minhas ilusões, ao utilizar Josué, Ivan Cavaleiro e André Almeida, e ao convocar André Gomes. Portanto, as minhas expetativas em relação à possibilidade de ver Adrien na seleção já não eram propriamente altas.

Voltando à opinião de Rui Pedro Braz, e seguindo este novo paradigma estive a tentar pensar em qual será a equipa titular da seleção no mundial. É melhor começarem a habituar-se a este onze: 



Rui Patrício - tem mesmo que jogar, pois não se conhece nenhum GR português que faça mais que uma posição em campo
Sílvio - suplente de Maxi e de Siqueira, pode jogar a DD, DE, e com boa vontade até a extremo
Fábio Coentrão - suplente de Marcelo, pode jogar a extremo esquerdo; o emblema que representou no passado também ajuda
Pepe - pode jogar a DC e a trinco
Steven Vitória - suplente de Luisão, Garay e Jardel, pode ser colocado a ponta-de-lança nos último minutos para aproveitar o seu forte jogo aéreo
André Almeida - DD, DE, MC, suplente de meio plantel do Benfica
Rúben Amorim - DD, MC, MD, suplente de Enzo Perez
André Gomes - MC, não joga, mas é agenciado por Jorge Mendes, que tem que o valorizar para o colocar em algum lado na próxima época
Ivan Cavaleiro - suplente de Gaitan, Markovic, Sálvio, Djuricic, Sulejmani, Rodrigo, Lima e Cardozo, pode jogar nos dois flancos
Nani - suplente no Manchester United, pode fazer os dois flancos
Cristiano Ronaldo - tem o defeito de ser titular no Real Madrid, mas pode jogar a extremo e a ponta-de-lança

O Louvre chegou ao Tumblr

Quem quiser apreciar em simultâneo várias obras do espólio artístico de um dos grandes nomes da atualidade, pode fazê-lo aqui. Garanto-vos que vale a pena. Se o mecenas que tomou a iniciativa de construir este espaço puder aumentar o tamanho das telas, será ainda melhor. Coisas destas merecem ser vistas ao pormenor.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Como perder uma boa oportunidade para ficar calado

Eládio Paramés, ontem, no Contragolpe.


Mudam-se os tempos, mudam-se as verdades

No passado sábado, Pinto da Costa fez declarações ao jornal O Jogo sobre o momento do clube e, em particular, sobre o rendimento recente de Quaresma.

in O Jogo

Lendo isto, subentende-se que foi mais uma vez o instinto visionário de Pinto da Costa que proporcionou ao Porto um reforço de enorme qualidade. Quando Quaresma fez saber que estava interessado em regressar, Pinto da Costa não hesitou e criou condições para que o jogador voltasse ao clube assim que possível, pois pensava que seria uma mais-valia, ao contrário de outros que colocavam dúvidas.

Lembrei-me imediatamente de outras declarações do presidente portista sobre a contratação de Quaresma, feitas no dia 1 de janeiro deste ano. Curiosamente ou talvez não, as afirmações de Pinto da Costa foram feitas num tom bem mais lacónico do que agora:

in maisfutebol.pt

Na altura eram efetivamente muitas as dúvidas sobre a capacidade de Quaresma conseguir recuperar os níveis competitivos do passado. Essas dúvidas eram legítimas, pois Quaresma estava sem competir ao mais alto nível há anos, com uma lesão grave pelo meio, sendo partilhadas de uma forma generalizada por jornalistas, adeptos portistas, e adeptos de outros clubes. 

Ao virar do ano, não só Pinto da Costa não colocou as mãos no fogo por Quaresma -- as declarações que fez são claramente no sentido de baixar as expetativas -- como empurrou a responsabilidade da contratação para Paulo Fonseca, não fosse a contratação correr mal.

E não me venham dizer que a confiança real que Pinto da Costa teria no jogador poderia ser superior à que demonstrou nas suas declarações. Seria a primeira vez no dirigismo desportivo que um presidente deixaria de aproveitar uma contratação de um jogador em quem acredita para tentar elevar o moral dos adeptos.

Mudam-se os tempos, mudam-se as verdades.

A cruzada de Luís Sobral contra os fanáticos

É conhecido o pouco apreço que Luís Sobral tem por Bruno de Carvalho. Não se trata de nenhum segredo, pois o diretor do Maisfutebol vai fazendo questão de o referir frequentemente -- umas vezes subtilmente, outras de forma bem mais clara.

Nas últimas semanas tem sido particularmente evidente a aversão que Luís Sobral demonstra pelo presidente do Sporting e pelo seu discurso. O seu meio preferido para difundir essa repulsa é o Twitter, onde podemos encontrar comentários como estes:

Comentário no final do Marítimo - Sporting

Sobre o balanço feito pela Lusa sobre o 1º ano de mandato de BdC

Não foi a primeira vez que Luís Sobral criticou a Lusa no Twitter, pois umas semanas antes já tinha feito um comentário de natureza semelhante.



Confesso que até achei interessante a invasão (no bom sentido) de egípcios ao facebook do Sporting, principalmente por mostrar a força globalizante do futebol em mercados à primeira vista menos evidentes. Não me parece errado que alguém na Lusa tenha pensado o mesmo. Mas voltemos a Bruno de Carvalho:

Sobre as declarações do presidente da APAF sobre as declarações de BdC

Sobre as declarações de BdC na CI no dia a seguir ao Sporting - Porto

Orgulhando-se de o MF não dar relevância à CI de BdC após jogo c/Setúbal

Após as queixas do Sporting sobre o atraso do Porto na Taça da Liga

Existem mais tweets de Luís Sobral sobre o presidente do Sporting que vão no mesmo sentido. Luís Sobral não gosta que se ataquem os árbitros, considera o erro de arbitragem algo que faz parte do jogo, pelo que critica todos aqueles que fazem acusações contundentes contra os homens do apito. Por exemplo, analisemos pormenorizadamente os tweets de Luís Sobral em que se insurge contra as duras declarações de Luís Filipe Vieira sobre a arbitragem após o Belenenses - Benfica:


Pois, Luís Sobral devia andar ocupado com outras coisas na altura.

A verdade é que a animosidade de Sobral é real e não tem apenas a ver com as críticas do Sporting à aos árbitros. Antes de Bruno de Carvalho ter feito qualquer comentário sobre arbitragens, já Luís Sobral o criticava abertamente -- como neste artigo, que foi escrito duas semanas após a tomada de posse como presidente do Sporting:


"A conferência de imprensa de Bruno de Carvalho esta tarde foi um exercício inédito de pressão sobre a banca.", escreveu neste artigo de opinião. E concluiria da seguinte forma: "Já quanto ao estilo o estado de graça terminou, pelo menos para mim. A conferência de imprensa com adeptos é uma prática antiga, própria de dirigentes inseguros e organizações que não sabem comunicar.".

No Sporting, o apreço pelo jornalista também não é coisa que abunde. Pouco tempo após o Benfica - Sporting para a Taça de Portugal, o Jornal Sporting escreveu uma peça apontando o dedo à falta de isenção de diversos jornalistas, nos quais se encontrava Luís Sobral. O que o Jornal Sporting escreveu na altura foi isto:




Não gostei de ler, pois achei esta iniciativa bastante deselegante. O facto de um jornalista desportivo ser benfiquista não é nenhum pecado. E a frase de Sobral que foi colocada também não tem nada de condenável. No máximo pode ser considerada de ingénua -- ou hipócrita, no caso de não ser sincera.


O que é condenável nas atitudes de Luís Sobral é o facto de não dar tratamento igual a situações idênticas protagonizadas por presidentes de outros clubes. É certo que já criticou Vieira e Pinto da Costa no passado, mas normalmente fê-lo de forma bem mais genérica e empregando um grau de acidez bem menor. Bruno de Carvalho tem defeitos, tem um estilo agressivo e pouco popular para quem não está do seu lado, mas não merece que lhe dispensem um tratamento bem mais agressivo da parte de quem não concorda com ele. A soma das atitudes de Bruno de Carvalho que possam ter contribuído para a suspeição da indústria do futebol fica a milhas de tudo o que de mau Pinto da Costa e Vieira já fizeram.

Pode ter sido por necessidade, mas Bruno de Carvalho foi o primeiro presidente a cortar de forma radical um orçamento em nome do saneamento financeiro, e de definir um rumo que passa pela aposta nos jovens da formação, com todos os benefícios que daí advirão para a seleção nacional e para o futebol português.

Comparar a seco Bruno de Carvalho com João Loureiro, que foi uma figura com ligações a uma rede de corrupção e tráfico de influências que desvirtuaram o futebol português durante anos a fio, e que acabou por levar o Boavista à falência, apenas expõe de forma evidente o ódio visceral que Sobral sente pelo presidente do Sporting.

Luís Sobral costuma acusar pessoas como eu de serem fanáticas, por só quererem saber do clube que apoiam e não gostarem realmente de futebol. Admito que possa ter razão. Mas o que é facto é que o próprio Sobral revela algum fanatismo nestes ataques incondicionais que vem fazendo, demonizando todos os atos de um presidente e ignorando ou criticando ao de leve os atos de outros. Se calhar não somos assim tão diferentes.