sexta-feira, 9 de junho de 2017

Balanço de 2016/17: Bruno de Carvalho


Fazer um balanço do desempenho de Bruno de Carvalho (e da direção da SAD e clube em geral) durante a época de 2016/17 é um exercício quase bipolar. Vamos por partes:


As eleições

A vitória esmagadora de Bruno de Carvalho foi um reflexo do trabalho que foi feito nas épocas anteriores, mas, ainda assim, foi um grande momento desta época. Não só pela percentagem expressiva de votos que obteve, mas, sobretudo, pela enorme afluência dos sócios às urnas.

Uma prova de confiança incontestável dos sócios no rumo que o clube leva e nas pessoas que o dirigem, e que demonstrou um total desfasamento entre as opiniões que inundam o espaço mediático e o sentimento de quem ama realmente o clube.


Futebol profissional

Depois da excelente época de 2015/16, compreendo perfeitamente que Bruno de Carvalho tenha decidido aumentar o poder de decisão de Jorge Jesus no futebol do Sporting. Ninguém, na altura, questionou a renovação do treinador com direito a aumento salarial, e poucos foram aqueles que, em finais de agosto, estavam insatisfeitos com a qualidade do plantel disponibilizado. Bruno de Carvalho apostou forte, aumentando o orçamento para o futebol de forma significativa, procurando satisfazer, dentro das suas possibilidades, todos os desejos do treinador. 

Para aqueles que defendem a teoria de que é o treinador que tem de decidir o plantel e que o presidente só tem de controlar os gastos e assinar os cheques, Bruno de Carvalho terá estado perfeito. Infelizmente, Jesus falhou demasiado e - à semelhança do que já tinha acontecido na sua passagem no Benfica - não conseguiu corresponder ao nível da liberdade que lhe foi concedida.

Outro aspeto mal gerido foi o regresso dos emprestados. Os casos de Palhinha e Podence justificaram-se, mas o mesmo não se pode dizer de Francisco Geraldes, André Geraldes e Ryan Gauld. O primeiro ainda teve alguns minutos, mas ter-lhe-ia feito melhor manter-se em Moreira de Cónegos - onde era titular indiscutível. Os outros dois nem um minuto tiveram, apesar de compreender que o clube tinha de marcar uma posição forte face a uma situação de desrespeito por parte do V. Setúbal. Ainda assim, o facto é que, apesar das tentativas, não se conseguiu arranjar uma solução interessante para ambos os atletas, que foram os principais prejudicados pelos acontecimentos.

Uma boa notícia foi a resolução do problema do relvado. Parecia impossível, mas foi conseguido.

A falha mais grave do presidente na gestão do futebol foi, a meu ver, a relação com o setor da arbitragem: convenceu-se prematuramente de que a arbitragem estava melhor quando, na realidade, não estava. Os elogios feitos ao fim de três ou quatro jornadas acabaram por ser totalmente despropositados, pois não tardou que a equipa fosse flagelada com inúmeros erros que custaram vários pontos e ajudaram a afastar-nos da luta pelo título. Convém, por isso, que não se ponha demasiada fé no videoárbitro: vai ser importante na eliminação de certo tipo de erros, mas irão continuar a haver campos inclinados. Vigilância apertada exige-se.

As responsabilidades de Bruno de Carvalho aumentam, portanto, na nova época. Não só no relacionamento com a arbitragem, mas também na relação com o treinador: Jesus é um técnico competentíssimo no terreno, mas o ano passado demonstrou que precisa de ser rodeado de uma estrutura que complemente as suas lacunas - e é responsabilidade do presidente providenciá-la. Aquilo que foi compreensível na época que agora acaba deixará de o ser na próxima. Os sinais dados até agora, nesse sentido, não são animadores, mas teremos de esperar para ver. 


Contas

Apesar do desequilíbrio operacional, o investimento feito no futebol foi perfeitamente calculado. A SAD nunca correu quaisquer riscos de apresentar novo prejuízo, graças às extraordinárias vendas de João Mário e Slimani - por valores-recorde para o Sporting. Como tal, havia margem para investir forte e responsavelmente. Como bónus, o endividamento bancário desceu 6,3 milhões nos primeiros nove meses do exercício, prometendo baixar significativamente em julho graças às vendas atrás referidas. Um terço dos valores necessários para recomprar as VMOCs já estão assegurados.

O saneamento financeiro continua a ser um dos pontos mais fortes da gestão de Bruno de Carvalho.


Futebol feminino

Uma aposta pessoal de Bruno de Carvalho que teve um primeiro ano ao nível das melhores expetativas. O projeto foi montado depressa e bem, com pés e cabeça: plantel sénior 100% português e foco numa formação de qualidade através do recrutamento das jogadoras com maior potencial. 

Nas seniores, já todos sabemos como correu: dobradinha, sem qualquer derrota em toda a época.

As camadas jovens têm tido um desempenho igualmente meritório, com uma dificuldade adicional: as nossas equipas juniores e juvenis são compostas quase na totalidade por jogadoras com 2, 3, 4 e até 5 anos abaixo da idade limite, mas muitos dos nossos adversários recorrem a jogadoras que estão em escalões superiores quando nos defrontam. Exemplo: na final dos sub-19, o Vilaverdense antecipou a jornada das seniores para que as jogadoras com idade sub-19 pudessem defrontar-nos. Apesar disso, e de termos de fazer dois jogos no mesmo dia (ao contrário dos nossos adversários nessa final a três), o Sporting saiu vencedor. 

Ano de regresso fenomenal, com excelente receção por parte dos sócios sportinguistas - como ficou exemplificado pelas excelentes assistências frente ao Braga para o campeonato e taça. Na próxima o nível dos desafios aumentará com a participação na Liga dos Campeões.


Modalidades

O ponto em que a tal bipolaridade mais se fez sentir. A ideia passou por investir muito forte no futsal, andebol, hóquei e atletismo. Os resultados variaram entre o bom e o muito mau. Vejamos caso a caso.

O único ponto positivo da época de futsal até ao momento foi a qualificação para a final da UEFA Futsal Cup, deixando duas equipas russas - e das melhores da Europa - pelo caminho. Pelo meio conquistou a Taça da Liga e assegurou o 1º lugar na fase regular do campeonato, mas perdeu a Taça de Portugal e a Supertaça. A vitória no campeonato será uma espécie de serviços mínimos, considerando o forte investimento numa equipa que já era bastante cara.

O andebol foi do inferno ao céu em poucas semanas. As contratações feitas elevaram bastante a qualidade do plantel - mérito a Zupo por isso -, mas nem isso foi suficiente para acabar com os colapsos psicológicos em momentos decisivos tão típicos desta secção: as duas derrotas com o Porto foram disso exemplo. O despedimento de Zupo foi uma consequência lógica dos maus resultados, e arranjou-se uma solução interina em Hugo Canela que, felizmente, correu da melhor forma: vitória na Taça Challenge e, sobretudo, conquista do campeonato - inesperadamente, diga-se, porque não é normal o Porto dar tantas borlas como deu.

A época de hóquei tem sido desastrosa, face ao investimento feito. Pessoalmente, nunca esperei que a equipa ganhasse o campeonato - o mais competitivo do mundo, repleto de equipas com projetos consolidados e recheadas de grandes jogadores -, mas aquilo que vimos foi demasiado mau. Começando pela perda de pontos na secretaria por utilização irregular de um jogador, passando pela eliminação prematura na Liga Europeia, terminando na forma inacreditável como deixámos fugir uma vantagem de 6-2 nos últimos minutos frente ao Barcelos. Contra os adversários diretos, duas vitórias em dois jogos contra a Oliveirense, mas duas derrotas e um empate contra o Porto (numa delas fomos eliminados na Taça de Portugal) e uma derrota contra o Benfica. Pelo meio, trocou-se de diretor e de treinador. Um exemplo de como não basta despejar dinheiro para obter resultados, é preciso ter as pessoas certas que o saibam gastar.

No atletismo, vitória em pista coberta nos campeonatos masculino e feminino. Infelizmente, a Taça dos Campeões Europeus foi cancelada, e não pudemos lutar pela revalidação do título feminino.

De realçar ainda a vitória nos campeonatos nacionais de ténis de mesa e natação.


Comunicação

Um problema antigo que não teve os avanços desejados. É certo que é uma tarefa complicadíssima lutar-se contra a máquina do Benfica - que domina vários órgãos de comunicação social - mas, ainda assim, existem aspetos controláveis que podem e devem ser melhorados: existe uma enorme dispersão nos ataques, misturando alvos importantes com pessoas insignificantes - Cláudio Ramos? A sério? -, mensagens longuíssimas e pouco focadas, cujo objetivo acaba por se perder a cada parágrafo que se acrescenta.

Também aqui a atividade foi pouco uniforme: no período pré-eleitoral, Bruno de Carvalho controlou bem as suas intervenções públicas, mas após as eleições sucederam-se as entrevistas - algumas das quais incompreensíveis (CMTV e TVI). O final da época revelou algum descontrolo que terminou com o fecho da conta de Facebook do presidente.

A Sporting TV pode e deve ser melhor utilizada: apesar de já se começar a ver algum trabalho para expor determinadas situações, ainda está longe de ser suficiente. É incomparável a eficácia e alcance do programa semanal do Porto Canal em relação ao que existe na Sporting TV.

Na minha opinião, houve alguns progressos em relação ao passado - é bom haver alguém como Nuno Saraiva para resguardar o presidente em determinadas situações -, mas, no geral, a comunicação do clube continua demasiado errática e reativa.