sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Notas soltas sobre as contas do Sporting


  • O Sporting apresentou ontem um lucro de 30,5 milhões de euros. Números bastante positivos que, no entanto, devem ser contextualizados em relação ao passado recente. Da mesma forma que na época passada, quando o Sporting apresentou 31,9 de prejuízo, convinha referir que as vendas de Slimani e João Mário equilibrariam as contas na época seguinte, desta vez convém referir que muito do lucro desta época acaba por ser uma compensação daquilo que não se faturou em 2015/16. A vida dos clubes é contínua e ininterrupta, pelo que não se pode isolar completamente uma época daquela que a precedeu e daquela que a sucederá para se fazer um análise completa da situação atual.
  • De qualquer forma, os resultados obtidos são, obviamente, muito positivos. Basta dizer que é o maior lucro apresentado nas últimas 10 épocas por qualquer um dos grandes (com a salvaguarda de que falta ainda saber os resultados de 2016/17 de Benfica e Porto).


  • Os resultados operacionais pioraram em relação à época passada: 16,9M de prejuízo contra 9,7M negativos em 2015/16. Isto deve-se, sobretudo, a um aumento substancial dos custos com pessoal. É o aspeto que mais me preocupa nestas contas: este nível de gastos em salários no plantel e equipa técnica coloca o clube num estado de dependência em vendas de jogadores que, na minha opinião, é maior do que seria desejável. Ainda assim, é uma situação que me parece controlada e dentro do limite de risco que considero aceitável.


  • Um dos aspetos mais positivos é a descida dos empréstimos bancários e obrigacionistas em praticamente 5M. De referir que os reembolsos das mais-valias das vendas de Slimani, João Mário e Rúben Semedo apenas foram efetuados em julho de 2017, ou seja, já em 2017/18. Isto significa que poderemos esperar uma descida ainda mais significativa dos empréstimos no R&C do 1º trimestre de 2017/18. O factoring (antecipação de receitas) manteve-se num nível idêntico ao da época passada.



    • Ficámos a conhecer os valores pagos por alguns dos reforços. Battaglia custou 4,5M por 80% do passe. Doumbia foi bastante mais caro do que inicialmente se julgava: 3,5M mais 3M de prémio de assinatura (provavelmente para compensar uma redução do salário em relação ao que auferia na Roma), e ainda 0,7M de comissão. Piccini custou um total de 3,2. O investimento em Bruno Fernandes está em 9,7M. Referência também para o facto de o Sporting já ter pago 11M por Bas Dost, ou seja, os 10M do valor fixo e 1M de objetivos já cumpridos. Mattheus Oliveira é, para já, o investimento mais duvidoso em função do que (não) tem jogado, mas ainda há muita época pela frente.
    • Ao nível da tesouraria, o panorama está mais folgado do que em relação há um ano: entre o que devemos a fornecedores e o que temos a haver de clientes nas compras e vendas de jogadores, há um saldo positivo de 15,5 milhões - em comparação com os -4,5 milhões a 30 de junho de 2016.
    • O passivo do Sporting aumentou de 249,2M para 310,9M graças, sobretudo, ao aumento dos saldos de fornecedores e outros credores. No entanto, não é nada que seja preocupante, por dois motivos: em primeiro lugar, como vimos, o endividamento bancário diminuiu; depois, porque o ativo subiu de 224,3M para 316,5M, assente essencialmente no aumento do valor contabilistico do plantel e nos saldos de clientes - e, como já foi referido mais acima, o valor a receber de clientes é superior ao valor a pagar a fornecedores. O aumento do ativo e do passivo é uma consequência natural do aumento do investimento em jogadores e do crescimento dos montantes faturados em vendas de atletas.
    • O Sporting voltou a ter capitais próprios positivos: de -25M em 2015/16 para 5,6M.