segunda-feira, 2 de outubro de 2017

A noite em que Rui empatou o karma

Muito do que se passou no jogo de ontem pode ser facilmente resumido no facto de Rui Patrício ter sido o melhor em campo. O Sporting pode dar-se por feliz por ter conseguido sair do clássico com um ponto, em particular pelo que (não) fez na primeira parte, período em que o Porto foi melhor em praticamente todos os aspetos do jogo. 

A segunda parte acabaria por ser mais equilibrada, com o Sporting a ser ligeiramente superior. Ainda assim, uma superioridade insuficiente para dar qualquer sensação de que poderíamos chegar à vitória - pelo contrário, a grande oportunidade da segunda parte seria do Porto - e que deixou a evidência da existência de vários problemas que Jorge Jesus não está a conseguir contornar: há vários jogadores fora de forma (desgaste físico acumulado?), há outros que estão em campo que não são nem nunca serão solução para quando precisamos de chegar ao golo, e neste momento não há no banco quem consiga trazer outras ideias para dentro de campo.

Foto: Carlos Alberto Costa



Rui contra o karma - a defesa que faz na segunda parte aos pés de Marega é extraordinária, salvando um ponto ao Sporting, roubando dois ao Porto, e poupando os sportinguistas da humilhação de serem derrotados por um jogador que foi alvo de gozo naquelas mesmas bancadas há coisa de ano e meio. Igualmente fenomenal foi a saída aos pés de um isolado Aboubakar, e convém não esquecer um par de outras defesas complicadas que mantiveram a baliza do Sporting inviolada. O melhor em campo.

A segunda parte - o Porto acabou por pagar a fatura da estratégia que Sérgio Conceição: parece-me que o treinador portista impôs um ritmo de jogo frenético desde o início para levar o Sporting a desgastar-se o mais rapidamente possível, de forma a tirar partido das 24 horas de descanso a mais que os seus jogadores tinham. Isso levou a que, compreensivelmente, os jogadores do Porto não conseguissem fazer a mesma pressão no campo inteiro que realizaram na primeira parte, e o Sporting começou a sair com mais facilidade do seu meio-campo com a bola jogável, ganhando um ascendente territorial que nunca teve na primeira parte, e chegando mais vezes à baliza de Casillas.

Algumas exibições - para além de Rui Patrício, é justo referir as boas exibições de Coates, Mathieu e William. Ao resto da equipa reconheço o esforço e disciplina defensiva, mas faltou discernimento em quase tudo o que tentaram fazer com a bola nos pés.



A primeira parte - quem esperava que o Sporting entrasse forte e encostasse o Porto atrás, apanhou uma surpresa desagradável: foi a equipa visitante que controlou totalmente as operações, conseguindo bloquear totalmente a primeira fase de construção do Sporting através de uma pressão constante a todos o campo, com 3 ou 4 jogadores a pressionarem centrais, laterais e o médio que descia para pegar na bola. Não se pode dizer que o Porto tenha conseguido impor uma avalanche ofensiva, mas conseguiu neutralizar completamente as ideias de jogo do Sporting e construiu um punhado de ocasiões que justificavam uma vantagem no marcador ao intervalo. 

Fora de forma - num onze em que os laterais pouco contribuem ofensivamente, a carga de responsabilidade acaba por recair em apenas quatro jogadores. Para mal dos nossos pecados, apresentam todos uma evidente má forma: Dost sem confiança, Acuña e Bruno Fernandes estão visivelmente desgastados, e Gelson está numa fase de desinspiração total.

Bolas paradas - a determinada altura, o Sporting tinha 10 cantos a favor, contra 2 do Porto. Infelizmente, a esmagadora maioria dos cantos a nosso favor morreram logo à nascença, por terem sido mal executados. A maior parte ficou demasiado curto e foi cortada pelo homem do Porto ao primeiro poste, com Acuña a ser particularmente exasperante. O único lance de perigo que me lembro foi o cabeceamento de Willam para defesa de Casillas na primeira parte. Num jogo em que a inspiração esteve em níveis rasos, as bolas paradas eram a melhor forma que tínhamos para marcar. Tem que se fazer melhor do que isto.

Falta de soluções no banco - ao intervalo, era angustiante olhar para a péssima primeira parte feita pela equipa, mas mais angustiante era olharmos para as alternativas que tínhamos no banco. Os jogadores de cariz ofensivos eram: Bruno César, um jogador sempre útil - e que entrou bem, ajudando a estabilizar o meio-campo - mas que não é um desequilibrador; Podence, com pouco ritmo desde que regressou de lesão; e Alan Ruiz, que anda há meses a jogar num registo incompatível com as ambições do Sporting. Assustador.



MVP: Rui Patrício

Nota artística: 2

Arbitragem: boa arbitragem de Carlos Xistra. Não houve grandes casos, os jogadores também não complicaram a sua tarefa, e o árbitro soube aproveitar isso a seu favor, mantendo um critério coerente. Fossem todas as arbitragens assim.



O empate acabou por ser um resultado simpático, e mais simpático ficou após o empate do Benfica na Madeira. A pausa das seleções vem em boa altura - mesmo havendo muitos jogadores convocados, o ritmo de treinos e de jogos vai abrandar -, seguindo-se o jogo em Oleiros para a Taça de Portugal. Que este período seja aproveitado para recuperar fisicamente os jogadores e para criar novas soluções alternativas.