terça-feira, 3 de outubro de 2017

Campanhas eleitorais e clubes de futebol: uma associação com benefícios num só sentido

As eleições autárquicas de domingo vieram demonstrar, mais uma vez, que os políticos (e os partidos políticos) têm uma ideia errada da influência que os clubes têm no momento em que os eleitores colocam a cruz nos boletins de voto.

Veja-se, por exemplo, o caso de Rui Rio, que foi reeleito duas vezes (em 2005 e 2009) para a presidência da Câmara Municipal do Porto apesar do conflito aberto com o clube mais representativo da cidade e, em particular, com Pinto da Costa. Nem tão pouco Luís Filipe Menezes retirou quaisquer dividendos dos bons serviços prestados ao FC Porto enquanto presidente da autarquia de Gaia, sendo copiosamente derrotado nas eleições de 2013 à Câmara Municipal do Porto.

Apesar dos exemplos passados, houve quem tentasse capitalizar a visibilidade de determinadas figuras ligadas ao futebol - ou mesmo dos próprios clubes - para conquistar votos. André Ventura, que usou um discurso do mais populista que existe e se fez acompanhar de várias figuras ligadas ao Benfica na sua campanha, não conseguiu melhorar o 3º lugar que o PSD já tinha obtido em 2009 e 2013. Justiça seja feita, melhorou a votação de 16 para 21,5%. Mas será os 5.500 votos conquistados em relação à 2013 compensam a imagem com que o partido fica ao associar-se a este tipo de discurso?

Outro exemplo foi o que se passou na Câmara de Oeiras. O presidente do município, Paulo Vistas, colocou a construção do centro das modalidades do Benfica no topo das suas promessas na área de Juventude, Entretenimento e Desporto (!).


Curiosamente, o próprio Benfica protagonizou o evento de apresentação dessa futura infraestrutura em plena campanha eleitoral, no terreno de nove hectares (localizados numa zona muito valiosa) que o município de Oeiras, muito generosamente, doará ao clube.

Terá sido vantajosa para o candidato esta associação ao Benfica? Os 14% de votos que angariou no total levam a crer que não lhe terá servido de muito.

Não estou a dizer com isto que a associação aos clubes é prejudicial aos candidatos. Não terá sido por isto que Paulo Vistas terá perdido, mas, definitivamente, a ligação aos clubes não traz os benefícios com que os candidatos sonham no momento em que decidem abrir mão do património do concelho em seu favor.