quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O negócio Carrillo

A contratação de André Carrillo por parte do Benfica teve, compreensivelmente, um grande destaque mediático que, no entanto acabou por não ter sequência do ponto de vista do rendimento do jogador em campo. A temporada do peruano foi discreta, tendo somado apenas 1250 minutos, metade dos quais na Taça de Portugal e na Taça da Liga, divididos por um total de 32 partidas.

Creio que é pacífico considerar-se que o Benfica fez questão de assegurar o jogador mais como resposta à contratação de Jorge Jesus pelo Sporting do que pela necessidade que tinham em adicionar um extremo aos seus quadros - onde iria encontrar a concorrência de nomes como os de Gaitán, Salvio, Pizzi, Guedes ou Cervi (já contratado) - e aos quais ainda se iriam juntar Zivkovic e Rafa.


A proposta do Sporting

Antes de avançarmos para as condições que o Benfica lhe ofereceu, creio que é pertinente recuperar o processo falhado de renovação com o Sporting. O Football Leaks divulgou, na altura, os contratos propostos pelo Sporting a Carrillo: o clube ofereceu 1,3 milhões líquidos por época (equivalente a cerca de 2,6 milhões brutos) - que o tornaria um dos elementos mais bem pagos do plantel -, e uma comissão de 1,5 milhões a Elio Casareto, o empresário do jogador. No caso de uma futura transferência para o estrangeiro, o empresário teria direito a 1,5 milhões adicionais. Perante a hesitação do jogador e empresário em aceitar uma melhoria significativa do salário, por, aparentemente, preferir sair para o estrangeiro, o Sporting fez um aditamento à proposta: comprometeu-se a vender o atleta caso aparecesse uma proposta igual ou superior a 15 milhões de euros de um clube estrangeiro, ou uma proposta de 40 milhões de um clube português.

Ainda assim, o jogador, sem nunca recusar explicitamente, preferiu manter o impasse. Desconfiados das suas reais intenções, o Sporting decidiu tirar as teimas em definitivo e colocou em cima da mesa um contrato que defendia por completo o interesse do jogador numa futura saída para o estrangeiro: caso o clube recusasse uma proposta de 15 milhões de euros de um clube estrangeiro, então o salário de Carrillo seria automaticamente atualizado para 2 milhões limpos na 1ª época, 3 milhões limpos na 2ª época, 4 milhões limpos na 3ª época e 5 milhões limpos na 4ª época. Conforme esperavam os responsáveis sportinguistas, nem assim o jogador assinou. Tiradas as dúvidas de que havia alguém por trás deste impasse, Carrillo foi afastado de imediato do plantel. Quatro meses mais tarde, percebeu-se o motivo da recusa.

Avancemos agora até janeiro, altura em que Carrillo assinou com o Benfica.


A proposta do Benfica

O contrato, com data de 29 de janeiro de 2016, é bastante simples ao nível das condições:


Contrato de 5 anos, recebendo 2,9 milhões brutos por época. Ou seja, Carrillo ficou com um salário ao nível dos jogadores mais bem pagos do plantel, que eram Luisão, Salvio e Jimenez (pelo menos de acordo com os documentos que têm sido revelados). O empresário também não se saiu mal no acordo: teve direito a uma comissão de 4 milhões de euros.


Isto significaria que Carrillo aceitou assinar pelo Benfica por apenas mais 300.000 euros brutos em relação ao que o Sporting lhe oferecera meses antes, e Elio Casareto conseguiu mais 2,5 milhões. No entanto, o negócio não se ficou por aqui. No mesmo dia, Benfica e Carrillo assinaram um aditamento ao contrato que garantia ao jogador...


... um prémio de assinatura de 2,5 milhões de euros e ainda... 


... uma componente variável dependente do número de jogos disputados como titular pela equipa principal em qualquer uma das competições em que o Benfica participava: 510.000 euros ao fim de 15 jogos, mais 510.000 euros ao fim de 30 jogos, podendo atingir, portanto, um total de 1,02 milhões de euros.

Ou seja, o salário de Carrillo poderia chegar aos 4 milhões de euros, mais 33% do que Luisão e Jimenez (que não têm nenhuma componente variável) e mais 10% do que Salvio (que tem uma componente variável que lhe permite ganhar um máximo de 600.000 euros em função do número de jogos disputados como titular).

Como se sabe, a época de Carrillo não correu particularmente bem, tendo disputado apenas 13 jogos como titular...


... o que significa que não atingiu os objetivos mínimos para receber sequer o primeiro patamar do prémio variável (510.000 euros por 15 jogos a titular). Não atingiu, certo? Errado. Carrillo atingiu o último patamar do prémio (1.020.000 euros por 30 jogos a titular porque, nesse mesmo dia, foi assinado um segundo aditamento ao contrato que estipula que...


... não é preciso Carrillo ser titular para se contar o jogo para efeitos de prémio. E nem sequer precisa de ser convocado. Jogue - seja como titular ou como suplente - ou não jogue - seja por opção técnica, lesão ou suspensão (desde que não seja por doping) -, todos os jogos oficiais do Benfica contam para atingir ambos os patamares do prémio.

Ora, como o Benfica tem sempre mais de 30 jogos oficiais, Carrillo terá sempre direito a este milhão adicional. O salário de Carrillo é de 4 milhões anuais, independentemente do seu rendimento desportivo.

Resumindo:
  • prémio de assinatura de 2,5 milhões;
  • comissão de 4 milhões para o empresário;
  • salário anual de 4 milhões.

Não admira que não quisesse aceitar os 2,6 milhões (mais 1,5 milhões para o empresário) oferecidos pelo Sporting. E ainda dizem que o Midas é o outro...