quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O refúgio na formação


Com o desmoronar dos objetivos nas várias competições em que o Sporting apostava, a agulha dos responsáveis do clube rapidamente se virou para o planeamento da próxima época e para a minimização dos danos para o que resta da temporada ainda em curso. A primeira (e óbvia) medida foi emagrecer um plantel demasiado extenso e caro para as necessidades do calendário. Saíram João Pereira, Petrovic, Elias, Markovic, Spalvis e André, e entraram João Palhinha, Francisco Geraldes e Daniel Podence. Regressaram também André Geraldes e Ryan Gauld, mas estes dois por motivos que nada tiveram a ver com questões desportivas.


Para além desta reestruturação do plantel, têm saído nos jornais notícias que dão conta de uma mudança (ou uma retoma, se preferirem) do paradigma, já com a próxima época no horizonte: apostar fortemente na formação, e atacar o mercado de forma cirúrgica.

Obviamente que, como qualquer sportinguista, não me desagrada ver reforçada a aposta na formação. Convém, em primeiro lugar, referir que não acho que a aposta na formação tenha sido totalmente esquecida nesta época. É verdade que nenhum jogador da equipa B foi promovido, mas houve, ao invés, uma consolidação na aposta em Gelson Martins e Rúben Semedo - o primeiro ainda não tinha o estatuto de titular, o segundo iniciou, pela primeira vez, uma época com esse estatuto. No entanto, vemos agora que deveria ter havido espaço no plantel para alguns dos jogadores que agora regressam. Esses não tiveram direito ao mesmo benefício da dúvida que foi dado a reforços que - agora sabemos - nada acrescentaram.

Corrigido o rumo que foi decidido em agosto, parece-me que esta reaproximação à formação está a ser feita mais por necessidade do que por convicção. Necessidade de redução de custos, conveniência por se saber que os sportinguistas sentem (e bem) mais empatia pelos miúdos da casa. Mas será que realmente se aprendeu com a experiência acumulada e com os erros cometidos?

Veremos como se reforçará a equipa para a próxima época. Não acredito, de maneira alguma, que só se façam as quatro contratações referidas na capa, por dois motivos. O primeiro, porque exigiria uma mudança radical de hábitos nos dois principais responsáveis do futebol do Sporting - Bruno de Carvalho e Jorge Jesus -, que sempre contrataram em quantidade. O segundo, porque quatro seria o número de contratações prementes para as atuais necessidades do plantel, mas convém não esquecer que também será necessário colmatar as saídas que acontecerão no defeso. E terá mesmo que ser assim, porque se há coisa que a época passada demonstrou, é que não é só com miúdos da formação que se atacam títulos. 

Não gosto, por isso, que se volte a colocar tantas expetativas nos miúdos da formação. Pode dar jeito neste momento para mobilizar os adeptos em torno da equipa, mas não será daí que surgirão as principais soluções para os nossos problemas. Os miúdos podem ajudar (e muito), mas não será suficiente. O ideal, como em quase tudo na vida, é haver um determinado equilíbrio entre a aposta em jovens com muito potencial e jogadores de créditos firmados. Não vale a pena tentar reinventar a roda. Mais do que os miúdos da formação que serão reintegrados - que sabemos terem qualidade -, a chave para o sucesso estará na qualidade das contratações que se irão fazer - e é aí que não poderemos, de forma alguma, falhar (novamente).