segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Gabigol no Benfica: um caso de sucesso

Em agosto, foram publicadas várias notícias sobre o interesse do Sporting na contratação de Gabriel Barbosa por empréstimo. Segundo o que se escreveu na altura, o Sporting só quereria o jogador caso o Inter suportasse os salários pela totalidade, limitando-se a pagar-lhe apenas casa e carro. Como é sabido, o empréstimo acabou por não se concretizar. Como o empresário do jogador revelou haver interesse por parte do seu representado, creio que se pode assumir que terá sido o Inter a não concordar com as condições propostas pelo Sporting.

Por necessidade desportiva ou para dar uma bicada no rival, o Benfica acabaria por se interessar também no empréstimo do jogador e teve sucesso naquilo em que o Sporting falhara. Por ter apresentado melhores condições ao Inter? Não, porque segundo o que o jornal A Bola noticiou na altura, o Inter aceitou pagar a totalidade do salário do jogador. Ou seja, o Benfica teria conseguido que os italianos aceitassem as condições que, dias antes, tinham rejeitado ao Sporting. Mais uma vez, o Midas gerava ouro.

O brasileiro veio para Lisboa, mas o seu percurso no Benfica não vai deixar grandes memórias. Gabigol nunca se conseguiu impor e, no final da semana passada, chegou a acordo com o Santos para prosseguir a sua carreira no Brasil. Ainda por empréstimo do Inter, mas... com parte do salário a ser comparticipado pelo Benfica.

Pelo menos foi o que o jornal A Bola - o mesmo jornal que, meses antes, garantira na capa que o Benfica não iria pagar qualquer parcela do salário do jogador - noticiou, na capa da passada sexta-feira, que a saída de Gabigol para o Santos vale ao clube da Luz uma poupança de 300 mil euros.


Ou seja, A Bola teve a distinta lata de fazer passar como positiva a humilhante realidade: na ânsia de dar mais uma bicada ao Sporting, o Benfica recrutou um jogador que não só não conseguiu rentabilizar desportivamente. De tal forma fracassou nessa bicada, que chega ao ponto de preferir abdicar dos préstimos de Gabriel Barbosa e pagar a terceiros de forma a reduzir os prejuízos da operação.

Convém recordar que, pelo meio, Luís Filipe Vieira revelou que o jogador tinha sido um desejo de Rui Vitória - estranho, considerando que o treinador apenas lhe deu 43 minutos em jogos a sério (campeonato e champions) - como, afinal, também teria custos para o Benfica - parte em fatura, parte em salário.

Mais um belo exemplo de como funciona a propaganda no futebol. Numas vezes os órgãos de comunicação social colaboram com determinados clubes de forma consciente, noutras serão enganados pelas "fontes" que lhes passam informações erradas para fazer determinado spin. Neste caso, admito que, aquando da contratação do jogador pelo Benfica, se tenha verificado o segundo caso: alguém poderá ter passado informações falsas ao jornal, que não tinha forma de verificar a sua veracidade. Mas no caso da forma como o jogador saiu, A Bola está a ser conscientemente conivente na forma como tenta transformar uma contratação que foi um total fracasso num sucesso relativo.

Se, por absurdo, um leitor do jornal A Bola não tivesse acesso a qualquer outra fonte de informação, ficaria a pensar que a passagem de Gabigol pelo Benfica teria sido um caso de sucesso do ponto de vista negocial.

Jornalismo? Nem pensar. Isto é querer enganar os leitores.